A agricultora Maria Milza dos Santos Fonseca, que viveu em Itaberaba, no interior da Bahia, teve o processo de beatificação autorizado pelo Vaticano, em Roma. A partir de agora, ela já pode ser chamada oficialmente de Serva de Deus, primeiro passo no caminho para possível canonização.
O anúncio foi feito na terça-feira (15), após o recebimento da carta oficial do Dicastério para as Causas dos Santos, órgão responsável pela condução das causas de canonização na Igreja Católica, assinada pelo cardeal Marcellus Semeraro, prefeito da Congregação. O documento confirma que não há impedimentos para que o processo prossiga.
O pedido foi feito pelo bispo da Diocese de Ruy Barbosa, Dom Estevam dos Santos Silva Filho, em agosto de 2024. A resposta oficial do Vaticano chegou em fevereiro deste ano e foi anunciada publicamente nesta semana, com grande comoção entre fiéis da região.
A primeira etapa do processo será a fase diocesana, que começa no dia 15 de agosto de 2025, data que marca os 102 anos do nascimento de Maria Milza. A cerimônia ocorrerá no povoado de Alagoas onde ela morava, e um tribunal eclesiástico será responsável por conduzir a investigação sobre sua vida e virtudes.
Esse tribunal será responsável por reunir testemunhos, documentos e relatos sobre a vida e as virtudes de Maria Milza, além de investigar possíveis graças ou milagres atribuídos à intercessão dela.
“Este importante passo nos enche de esperança, pois nos aproxima do momento em que poderemos testemunhar a santidade de Maria Milza, nossa Mãezinha, que partiu para a Casa do Pai em 1993”, declarou a Diocese em nota oficial.
Com a autorização do Vaticano e o início da fase diocesana, a causa seguirá conforme as “Normas a serem seguidas nas Inquirições a serem feitas pelos Bispos nas Causas dos Santos”, publicadas pelo próprio Dicastério em 1983.
Se, após a análise, for reconhecida a vivência de virtudes heroicas e a comprovação de um milagre, Maria Milza poderá ser declarada Beata. A canonização, que a tornaria oficialmente santa, exige um segundo milagre após a beatificação.
Enquanto isso, a Diocese convida os fiéis a se unirem em oração. “Com fé e esperança, seguimos firmes neste caminho, confiantes na intercessão da nossa querida Mãezinha”, diz o comunicado oficial da Diocese.
Quem foi Maria Milza
Nascida em 15 de agosto de 1923, na comunidade de Alagoas, Maria Milza era a caçula de 12 irmãos e cresceu em um lar de agricultores. Desde jovem, se destacou pela vida de oração, solidariedade e dedicação aos mais pobres.
Mesmo com poucos recursos, dividia tudo o que tinha com quem mais precisava. Trabalhava na casa de farinha da família e oferecia alimentos como beiju e farinha de mandioca a moradores em situação de fome. Caminhava por longas distâncias para visitar doentes e levava consolo espiritual, orações e medicamentos.
Além disso, alfabetizava crianças da comunidade usando cartilhas católicas, ensinando leitura, escrita e valores cristãos. Sua casa virou ponto de referência para fiéis em busca de orientação e apoio. Seu exemplo de fé e solidariedade tornou referência na região.
Ela faleceu em 17 de dezembro de 1993, mas a devoção popular continua viva. O túmulo de Maria Milza, localizado na capela de Santo Antônio, na comunidade de Alagoas, se transformou em um local de peregrinação para fiéis de várias regiões.
Encontro com Irmã Dulce
Embora tenham se encontrado poucas vezes, há registros que indicam uma relação de respeito e afinidade espiritual entre Maria Milza e Irmã Dulce, a primeira santa brasileira. Em uma das raras imagens registradas entre 19 à 21 de setembro 1990, Milza aparece visitando Irmã Dulce quando ela já estava muito doente e acamada.
Ambas partilhavam da mesma espiritualidade baseada no cuidado e na caridade com os pobres, sendo referências de amor ao próximo.
Casa Memorial de Maria Milza
A residência onde Maria Milza morava, conhecida carinhosamente como a Casa de Mãezinha, foi durante sua vida um ponto de acolhimento para doentes, romeiros e pessoas em busca de conselhos e orações. Ali, muitos relatam terem encontrado conforto espiritual e ajuda material.
Segundo a Irmã Claudia Conceição, da Comissão Histórica do Santuário Diocesano da Caridade Nossa Senhora das Graças, com o tempo, a crescente manifestação de fé popular e o reconhecimento da importância de sua história, levaram à transformação da antiga casa no Memorial Maria Milza, um espaço que preserva sua memória, acolhe os devotos e testemunha a força da fé e da gratidão expressas através de objetos e mensagens, deixados ao longo do tempo, como testemunhos silenciosos de graças alcançadas por intercessão da "Mãezinha" Maria Milza.
Hoje, o espaço, localizado no povoado de Alagoas, no município de Itaberaba, passou a receber ainda mais visitantes e se transformou em um memorial, que guarda objetos, cartas e ex-votos deixados por fiéis que atribuem graças à sua intercessão.
Fonte: G1